segunda-feira, 21 de maio de 2012

Eu visto acima de 44, e daí?!


Das cirurgias plásticas aos modelos plus size, a relação das mulheres com seus corpos.

Karlla Queiroz, dona do blog Doces Curvas e modelo plus zise.Foto: Divulgação.

Qual mulher nunca ficou incomodada ou olhou possessa desejando o corpo daquela capa de revista? A imagem que é reproduzida tanto na TV, outdoor e nos meios impressos mostra como é o ideal de beleza: corpos magros, barrigas chapadas, volumes exacerbados de peitos e bundas. Na sua maioria, as mulheres não possuem esse modelo, mas se torna um desejo quase involuntário quando existe toda uma exploração do que é “bonito” e “saudável”.

Conversando com 12 mulheres entre 23 e 37 anos que não estão enquadradas no padrão de beleza exigido atualmente, observamos o quanto pode ser pejorativo esses conceitos. Quando se pergunta pela satisfação pelo corpo, a resposta vem de diferentes formas.

Não estou satisfeita com o meu corpo. Sou outra pessoa dentro de um corpo que não é meu”, diz a estudante de design L.C., de 26 anos. Já Tatiana Muniz, de 25 anos, estudante de publicidade, fala que está satisfeita: “Claro que não me acho a mulher mais bonita do mundo, ou pense que não preciso mudar ou melhorar nada. Eu melhoraria sim... Tenho vontade de mudar meu corpo, emagrecer um pouco... Mas isso é um desejo não prioritário na minha vida”.

Existem os casos em que os familiares e pessoas próximas acabam cobrando a aparência perfeita. A radialista L.M, de 28 anos, confessa: “Estou acima do peso e com os comentários das pessoas acabo ficando insatisfeita com o meu corpo”.

Quando o assunto é profissional ainda se nota o preconceito. A estudante de administração e professora de inglês, Mara Rosália, 24 anos, diz que embora satisfeita com o corpo, ela sente dificuldades na hora comprar roupas e já se sentiu discriminada, pois perdeu oportunidades de trabalho por conta do excesso de peso. “Não consegui emprego em recepção de hotel por conta de aparência física, e olha que eu sou graduada e falo inglês”, relata.

A aparência ainda é ponto principal na hora de analisar um candidato. “Na escola de idiomas, também não peguei uma turma vip (que ganha mais) com uns executivos chiques, pois não tinha o ‘perfil’, oras! Que perfil?”, enfatiza a professora, que revela a “coincidência” da professora escolhida ter sido justamente a mais bonita da escola.

Aparência física parece ser coisa ultrapassada em dias que se levantam bandeiras que apoiam igualdade social, mas quando se trata de coisa simples como se vestir as entrevistadas sentem dificuldade. “Não me sinto contemplada quando chego em lojas e não consigo encontrar o tamanho 44. O ruim desse padrão de beleza super magro é que tudo que está fora disso acaba nas margens. Isso se reflete até nas lojas que vendem roupas. Elas querem atingir um público que veste 38, 40. E nós que não estamos nessas medidas?”, questiona T. L., de 23 anos.

Plus Size
Hoje já existe um diferencial na moda, as modelos “Plus Size”, termo norte-americano para manequim acima de 44. Está nova inclusão no mercado acalma o ponto de vista de algumas mulheres. O mercado da moda deixou cair em esquecimento modelos de roupas para tamanhos G, GG e XG, mas isso está mudando mesmo que lentamente. A cada dia se observa o crescimento e inclusão desses modelos maiores.

 “Esse ícone de beleza implantada pelas revistas está perdendo seu conceito porque atualmente temos revistas que falam das modelos Plu Size, que estão conquistando mercado”, diz L.S, de 26 anos.

 A blogueira de moda Talita Cavalcante fala que “de uns tempos pra cá, o padrão de modelo magra e alta felizmente tem mudado”. A dona do blog ZIPETTI observa a amplitude dessas mudanças: “O mercado brasileiro de moda, hoje, procura agradar a todos os públicos, afinal todo mundo é consumidor, principalmente quando o assunto é roupa.”

As lojas especializadas estão em crescimento, e as lojas de departamento acompanhando esse ritmo. “Podemos encontrar roupas para modelos GG”, acrescenta Talita.

Hoje se procura outro profissional no mercado da moda, mulheres que vestem o numero acima de 44 e que se assumem como tal. O concurso de beleza Miss Plus Size Nordeste, proporciona novas descobertas na moda “plus”, e cria um novo quadro nas agências de modelo. O gerente da agência New Face, Ton Silveira, explica que esse mercado está se abrindo agora. “Em Fortaleza não existem modelos especializados nessa área, é algo escasso ainda”. Silveira revela ainda que “as modelos gordinhas têm muita vergonha, conheço uma top que engordou pra alcançar esse mercado”. As modelos desse segmento, segundo Ton, ganham bem mais que as modelos do perfil tradicional.

A analista de mídias sociais, blogueira e modelo Plus Size Karlla Queiroz, 21 anos, fala que o mercado da moda nessa área está em expansão e cresce a cada dia mais, mas afirma: “no Sudeste e no Sul, é onde fica a maior concentração de lojas plus size do Brasil” e que em Fortaleza a espaço para mais lojas. “Em Fortaleza está em crescimento, já temos algumas lojas boas, mas não em quantidade suficiente”, diz Karlla, que acrescenta que o cachê vai depender muito do tipo de trabalho: “Se a pessoa for conceituada como meninas que já tem nome como Fluvia Lacerda, Renata Poskuz, Mayara Russi, o cachê é bem gordinho. Mas se for uma modelo que ainda não tenha tido muitos trabalhos, é um cachê parecido com trabalhos comuns de modelo”.

“Eu via revistas de moda, e queria ser como aquelas meninas de capa de revista, mas não queria mudar meu estilo, nem meu corpo”, explica a analista de mídias sociais ao falar de como surgiu à ideia para a criação do blog Doces Curvas.

Intervenções cirúrgicas
Apesar desse novo olhar para as gordinhas, muitas mulheres acreditam que somente por um procedimento mais radical vão alcançar o corpo ideal. A estudante Isabele Pedrosa, de 26 anos, optou pela cirurgia de redução de estômago (cirurgia bariátrica ou gastroplástia). O método utilizado pela graduando de Design para o procedimento cirúrgico foi “Bypass Gástrico sem anel e via laparoscopia, que oferece perda de peso entre 35 e 40% do peso inicial”. Ela ainda conta que “desde criança fui gordinha e nunca me aceitei, então decidi pela estética”.

Nessa técnica, o estômago é grampeado para reduzir a capacidade de armazenamento, junto a isto é feito um desvio do intestino com cerca de dois metros – o tamanho normal do intestino é de sete metros. O intestino desviado é ligado ao novo estômago. Essa técnica pode acarretar problemas futuros, pois gera uma má absorção dos alimentos, tornando o paciente dependente de medicamentos. Segundo Isabele, “são vitaminas que devem ser tomadas pro resto da vida para o bom funcionamento do organismo”.

Mas todo o esforço e cuidado parece valer a pena. A estudante, que após seis meses da cirurgia já eliminou 28 kg, está empolgada e diz “faltam 16 kg, que nas minhas contas, em quatro meses eu mando embora” e afirma, “passaria pela cirurgia 10 mil vezes, se fosse preciso”.

 “Já tive três filhos e acho que uma cirurgia, como abdominoplastia e implante de silicones, iam melhorar e muito a minha aparência física”, afirma a servidora pública Marta Cunha, de 37 anos. Ela ainda relata que na adolescência o problema era outro.  “Quando eu era mais jovem, eu me sentia excluída do grupo, mas ao contrário do que a mídia pede, eu era discriminada por ser muito magra”. E afirma, “apesar das exigências de beleza do mundo Fashion, eu queria era agradar os jovens da minha idade: ter perna grossa, bumbum, peito...”.

Se existe um ideal ou padrão de beleza, muitas mulheres têm ideias diferentes ao explicar qual esse padrão. A quem ache que é ser magra, outras cheia de curvas e as que estão satisfeitas ou em busca do “corpo ideal”. Mas de modo geral, elas reconhecem a mídia como a grande influenciadora e devem agir com inteligência na hora de fazer as escolhas, pensar se realmente as roupas, o corte de cabelo, regimes e procedimentos cirúrgicos é a coisa mais certa a ser feita.









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