Das cirurgias plásticas aos modelos plus size, a relação
das mulheres com seus corpos.
Karlla Queiroz, dona do blog Doces Curvas e modelo plus zise.Foto: Divulgação.
Qual mulher nunca ficou incomodada ou olhou possessa desejando
o corpo daquela capa de revista? A imagem que é reproduzida tanto na TV,
outdoor e nos meios impressos mostra como é o ideal de beleza: corpos magros,
barrigas chapadas, volumes exacerbados de peitos e bundas. Na sua maioria, as
mulheres não possuem esse modelo, mas se torna um desejo quase involuntário
quando existe toda uma exploração do que é “bonito” e “saudável”.
Conversando com 12 mulheres entre 23 e 37 anos que não estão enquadradas
no padrão de beleza exigido atualmente, observamos o quanto pode ser pejorativo
esses conceitos. Quando se pergunta pela satisfação pelo corpo, a resposta vem
de diferentes formas.
“Não estou satisfeita com
o meu corpo. Sou outra pessoa dentro de um corpo que não é meu”, diz a estudante
de design L.C., de 26 anos. Já Tatiana Muniz, de
25 anos, estudante de publicidade, fala que está satisfeita: “Claro que não me
acho a mulher mais bonita do mundo, ou pense que não preciso mudar ou melhorar
nada. Eu melhoraria sim... Tenho vontade de mudar meu corpo, emagrecer um
pouco... Mas isso é um desejo não prioritário na minha vida”.
Existem os casos em que os familiares e
pessoas próximas acabam cobrando a aparência perfeita. A radialista L.M, de 28
anos, confessa: “Estou acima do peso e com os comentários das
pessoas acabo ficando insatisfeita com o meu corpo”.
Quando o assunto é profissional ainda se nota o
preconceito. A estudante de administração e professora de inglês, Mara Rosália,
24 anos, diz que embora satisfeita com o corpo,
ela sente dificuldades na hora comprar roupas e já se sentiu discriminada, pois
perdeu oportunidades de trabalho por conta do excesso de peso. “Não consegui emprego
em recepção de hotel por conta de aparência física, e olha que eu sou graduada
e falo inglês”, relata.
A aparência ainda é ponto principal na
hora de analisar um candidato. “Na escola de idiomas, também não peguei uma
turma vip (que ganha mais) com uns executivos chiques, pois não tinha o ‘perfil’,
oras! Que perfil?”, enfatiza a professora, que revela a “coincidência” da
professora escolhida ter sido justamente a mais bonita da escola.
Aparência física parece ser coisa
ultrapassada em dias que se levantam bandeiras que apoiam igualdade social, mas
quando se trata de coisa simples como se vestir as entrevistadas sentem
dificuldade. “Não me sinto contemplada quando chego em lojas e não consigo
encontrar o tamanho 44. O ruim desse padrão de beleza super magro é que tudo
que está fora disso acaba nas margens. Isso se reflete até nas lojas que vendem
roupas. Elas querem atingir um público que veste 38, 40. E nós que não estamos
nessas medidas?”, questiona T. L., de 23 anos.
Hoje já existe um diferencial na moda,
as modelos “Plus Size”, termo norte-americano
para manequim acima de 44. Está nova inclusão no mercado acalma o ponto de
vista de algumas mulheres. O mercado da moda
deixou cair em esquecimento modelos de roupas para tamanhos G, GG e XG, mas
isso está mudando mesmo que lentamente. A cada dia se observa o crescimento e
inclusão desses modelos maiores.
“Esse ícone de beleza implantada pelas revistas está
perdendo seu conceito porque atualmente temos revistas que falam das modelos Plu Size, que estão conquistando
mercado”, diz L.S, de 26 anos.
A
blogueira de moda Talita Cavalcante fala que “de uns tempos pra cá, o padrão de
modelo magra e
alta felizmente tem mudado”. A dona do blog ZIPETTI observa a amplitude dessas
mudanças: “O mercado brasileiro de moda, hoje, procura agradar a todos os
públicos, afinal todo mundo é consumidor, principalmente quando o assunto é
roupa.”
As lojas especializadas estão em crescimento, e as lojas de departamento
acompanhando esse ritmo. “Podemos encontrar roupas para modelos GG”, acrescenta
Talita.
Hoje se procura outro profissional no mercado da moda, mulheres que
vestem o numero acima de 44 e que se assumem como tal. O concurso de beleza Miss
Plus Size Nordeste, proporciona novas descobertas na moda “plus”, e cria um
novo quadro nas agências de modelo. O gerente da agência New Face, Ton
Silveira, explica que esse mercado está se abrindo agora. “Em Fortaleza não
existem modelos especializados nessa área, é algo escasso ainda”. Silveira revela
ainda que “as modelos gordinhas têm muita vergonha, conheço uma top que engordou
pra alcançar esse mercado”. As modelos desse segmento, segundo Ton, ganham bem
mais que as modelos do perfil tradicional.
A analista de mídias sociais,
blogueira e modelo Plus Size Karlla Queiroz, 21 anos, fala
que o mercado da moda nessa área está em expansão e cresce a cada dia mais, mas
afirma: “no Sudeste e no Sul, é onde fica a maior concentração de lojas plus size do Brasil” e que em Fortaleza
a espaço para mais lojas. “Em Fortaleza está em crescimento, já temos algumas
lojas boas, mas não em quantidade suficiente”, diz Karlla, que acrescenta que o
cachê vai depender muito do tipo de trabalho: “Se a pessoa for conceituada como
meninas que já tem nome como Fluvia Lacerda, Renata Poskuz, Mayara Russi, o
cachê é bem gordinho. Mas se for uma modelo que ainda não tenha tido muitos
trabalhos, é um cachê parecido com trabalhos comuns de modelo”.
“Eu via revistas de
moda, e queria ser como aquelas meninas de capa de revista, mas não queria
mudar meu estilo, nem meu corpo”, explica a analista de mídias sociais ao falar
de como surgiu à ideia para a criação do blog Doces Curvas.
Apesar desse novo olhar para as gordinhas, muitas
mulheres acreditam que somente por um procedimento mais radical vão alcançar o
corpo ideal. A estudante Isabele Pedrosa, de 26
anos, optou pela cirurgia de redução de estômago (cirurgia bariátrica ou
gastroplástia). O método utilizado pela graduando de Design para o procedimento
cirúrgico foi “Bypass Gástrico sem anel e via laparoscopia, que oferece perda
de peso entre 35 e 40% do peso inicial”. Ela ainda conta que “desde criança fui
gordinha e nunca me aceitei, então decidi pela estética”.
Nessa técnica, o estômago é grampeado
para reduzir a capacidade de armazenamento, junto a isto é feito um desvio do
intestino com cerca de dois metros – o tamanho normal do intestino é de sete
metros. O intestino desviado é ligado ao novo estômago. Essa técnica pode acarretar
problemas futuros, pois gera uma má absorção dos alimentos, tornando o paciente
dependente de medicamentos. Segundo Isabele, “são vitaminas que devem ser
tomadas pro resto da vida para o bom funcionamento do organismo”.
Mas todo o esforço e cuidado parece
valer a pena. A estudante, que após seis meses da cirurgia já eliminou 28 kg, está
empolgada e diz “faltam 16 kg, que nas minhas contas, em quatro meses eu mando
embora” e afirma, “passaria pela cirurgia 10 mil vezes, se fosse preciso”.
“Já tive três filhos e acho que uma cirurgia, como
abdominoplastia e implante de silicones, iam melhorar e muito a minha aparência
física”, afirma a servidora pública Marta Cunha, de 37 anos. Ela ainda relata que na adolescência o problema era
outro. “Quando eu era mais jovem, eu me
sentia excluída do grupo, mas ao contrário do que a mídia pede, eu era
discriminada por ser muito magra”. E afirma, “apesar das exigências de beleza
do mundo Fashion, eu queria era agradar os jovens da minha idade: ter perna grossa,
bumbum, peito...”.
Se existe um ideal ou padrão de beleza, muitas mulheres
têm ideias diferentes ao explicar qual esse padrão. A quem ache que é ser magra,
outras cheia de curvas e as que estão satisfeitas ou em busca do “corpo ideal”.
Mas de modo geral, elas reconhecem a mídia como a grande influenciadora e devem
agir com inteligência na hora de fazer as escolhas, pensar se realmente as
roupas, o corte de cabelo, regimes e procedimentos cirúrgicos é a coisa mais
certa a ser feita.